Nesta semana a Galiza lembra Delgado Gurriarán, que será homenageado na vindura terça feira como figura do Dia das Letras. Por trás deste nome nom se agocha apenas um bom literato senom, como tantas outras vezes, um defensor da nossa Terra, que fijo aliás da língua e da galeguidade umha trincheira contra o fascismo.
Nasceu no leste do País, na comarca do Barco, numha pequena paróquia de nome Córgomo, pertencente ao Concelho de Vila Martim. Como indica o seu apelido materno, as suas raigames remotas estavam em terras bascas, e com efeito, os seus devanceiros chegaram a terras galegas para se dedicarem às ferrarias. (Esta imigraçom especializada foi muito típica do interior montanhoso do nosso país).
Polo lado paterno, Florencio vinha também de família abastada: o seu pai, Florencio Delgado, possuía terras vitivinícolas, era empregado do Ministério de Fomento, e chegou a desempenhar-se como professor em Espanha. Foi precisamente em Espanha, em Castela, onde morando com o seu pai temporalmente Gurriarán descobre o nacionalismo. É mui clássica esta descoberta da Terra na emigraçom, e fijo-se graças à literatura e à imprensa.
Na casa natal, Florencio lera os clássicos do Rexurdimento, mas nos anos 20, desconhecemos como, chega às suas maos um número d’A Nosa Terra. É entom quando dá ao passo ao nacionalismo. Segundo contam os seus biógrafos, sem proceder dumha família nacionalista, si procedia dumha família galego-falante e que educou as suas crianças no nosso idioma, fenómeno muito inusual nas classes dominantes locais. Este substrato puido ajudar Delgado na evoluçom para o patriotismo.
Advogado e jornalista
A finais dos anos 20 topamo-lo no Barco como advogado de sucesso, e também como jornalista debutante em jornais ourensanos (Heraldo Gallego) ou nacionais. Afeiçoado aos pseudónimos, Delgado foi na imprensa Kormófilo (alusom à sua pátria pequena), Nadel (‘agulha’ em alemao), Porto do Rio, Xam do Sil, Sil, ou R. Minho, vínculo clássico com estes dous cursos fluviais que regam as nossas terras do vinho.
Dinamizador cultural da sua comarca e home festeiro e de grande dom de gentes, nos anos 30 chega ao Barco, polo seu esforço, a celebraçom da Diada da Galiza. Em 1934 fai parte já do Partido Galeguista e conhece Castelao, um feito marcante para o seu futuro.
Seguindo o ronsel de boa parte do galeguismo dos 30, compagina a acçom política com a criaçom literária, e naquela jeira do chamado segundo Rexurdimento publica Bebedeira, umha obra que os especialistas consideram dionisíaca, um canto à vida e à sua bisbarra natal. O estudioso Alonso Montero diz que, além de patriota galego, Gurriarán foi um poeta matriótico que cantou exaltadamente a contorna onde se criou, ligada aos momentos felizes de infáncia e juventude.
Guerra e compromisso
Se bem até os seus trinta e três anos Gurriarán nom foi umha figura de primeira linha do galeguismo, a guerra vai mudar as cousas para ele. O conflito começou para o nosso homem, antes que em qualquer outro lugar, na própria morada, pois o seu irmao Lucio era o chefe da Falange em Córgomo.
Os vencelhos de sangue puidérom mais que o ideário, e assim é a acçom do seu familiar a que permite a Delgado fugir, numha peripécia que o leva por Espanha, Portugal, e finalmente a Bordeos e Paris, aonde chegou oculto num barco norueguês.
Postos os pés em Paris, e demonstrando lealdade às suas convicçons, dirige-se a Barcelona, onde se integra no chamado Serviço de Informaçom Periférico. Entra em contacto com primeiras figuras galegas como Guerra da Cal, Castelao, Líster ou Santiago Álvarez, e as suas competências ponhem-no à frente da secretaria de propaganda do PG. Escreve também poemas de combate em Nueva Galicia, e coordena o transcendental Cancioneiro da loita galega, que será editado polo nacionalismo em México em 1943, com limiar de Ramom Cabanilhas filho.
No ‘Ipanema’, cara o galeguismo do exílio
Ante a iminência da queda republicana, o governo envia Delgado Gurriarán e outros dos seus homens a ajudar na evacuaçom da Catalunha; enquadrado nas chamadas Sociedades Hispanas Confederadas argalham a saída massiva a América do buque Ipanema. Para além dum fenomenal trabalho humanitário, o Ipanema conseguiu salvar a vida, e pôr em contacto além mar, nomes tam importantes da nossa causa como Elixio Rodríguez (piloto de guerra e militante da FMG de Bande), Roxelio Rodríguez de Bretaña (da FMG de Ourense), Johán López Durá (patriota galego nascido em Cuba, e membro do PG no exílio), ou Carlos Tomé Alonso (emigrante que pugera em contacto Castelao com o nacionalismo catalám).
A partir de entom, e nesses tempos tam duros, mas apoiado pola solidariedade antifascista mexicana, Delgado multiplica a sua acçom política. Enquanto sobrevive como comercial ou empregado dumha farmacêutica, lança o programa Hora de Galicia, que se mantém vinte anos em antena emitindo em galego, participa do Padroado da Cultura Galega, edita Vieiros em companhia de Luis Soto e Carlos Velo, e ainda assina o Pacto Galeuzca de 1944 junto com López Durá; dalgumha maneira, esse núcleo mexicano do galeguismo (composto curiosamente na sua quase totalidade por militantes do sul do País) salva o deserto organizativo que na Galiza propiciou o pinheirismo, e funciona à espera da reorganizaçom nacional que, uns anos mais tarde, fam possível a UPG e o PSG.
Delgado volta a Galiza apenas pontualmente, segue a escrever poesia nos anos 60 (Galicia infinda) e merece a admiraçom da comunidade emigrante, nomeadamente a mais consciente, pola sua capacidade para o entendimento com as pessoas e as suas dotes organizativas.
Hoje o país recorda-o, e também as instituiçons oficiais, que porém agocham umha importante dimensom da sua visom galega: ‘‘penso, como Carvalho Calero, Paz Andrade, Rodrigues Lapa e muitos mais, que a salvaçom do galego como língua de cultura está no seu achegamento às variantes irmás já cultivadas, sen perder, nom faltava mais, a nossa enxebreza. Devemos aspirar à universalidade, aproveitando o ensino do português e do brasileiro.’’
Delgado Gurriarán finou em Califórnia, na morada dos filhos, em 1987, sem ver cumprido o seu sonho dumha Galiza soberana, nem da derrota total dos fascistas que estragaram a sua biografia, e a de tantos e tantas compatriotas.
Por Jorge Paços.
[artigo publicado originariamente em Galiza Livre]